quarta-feira, 12 de março de 2025

Memórias de uma Deusa do Mar -POESIA


desertaste das estórias muito belas,

gora só te comprazes com as estórias

suavemente em movimento, quase partilháveis

com a morte, a inconsistência, a perda.

bebe-las, separadamente,

na primavera,

enquanto o sono não te desce
 


Habito num deserto,
ao longe vens tu,
sempre ao longe tão perto,
habito num deserto,
e eu só quero o teu olhar,
como a luz num rosto de uma doçura antiga.

Habito num deserto,
um paisagem lenta,
o espreguiçar dos dias,
as noites sem fim.

O teu rosto fragmenta-se
em mil e uma noites
que nunca terei ao teu lado,
amor, sonho de uma lua distante.

Habito no deserto,
onde já não sei para onde vou,
dá-me uma mão,
mesmo que seja para mim 
apontares que o horizonte
é nulo,
e a ausência prolonga
em todas as coisas.
Dá-me a imagem do rosto amado,
e a mão ilusória-
(habito num deserto, 
tão longe de ti, tão perto).

Copyright: 1995 Cecília Barreira
Editora: Amadis




-Sara Rocha Cardoso- Administradora do blog

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